Sobrevivi

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Nasci no Brasil um ano depois do golpe militar. Estudei em colégio particular, depois nos estaduais. Tive aulas de Educação moral e cívica (era obrigatório). A despeito da ditadura, cheguei à maioridade e, pasmem, servi ao Exército Brasileiro no ano da abertura política e estava de prontidão no dia das Diretas Já! Tornei-me comunista e meu primeiro trabalho de filosofia na faculdade foi baseado no manifesto do Partido. Depois socialista, social-democrata, até concluir que nenhum deles se dá ao respeito e, portanto, não merecem o meu respeito. Vi presidente morrer sem assumir, presidente assumir sem querer, presidente ser presidente sem merecer e presidente cair sem saber o porquê. Vi presidente que não gostava do cheiro de gente. Preferia os cavalos. Já vi cara-pintada, cara-de-pau e cara-lavada. Isso tudo se ficarmos no primeiro escalão. Vi um ministro acertar o rumo da economia e virar presidente.
Virou o século e a maior frustração da humanidade talvez tenha sido o não-bug-do-milênio. A minha foi ver que os políticos “trabalhadores” valem tanto quanto aqueles a quem eles próprios apedrejaram.
Era pra ser um texto divertido, mas não deu. Não posso julgar a ninguém. Não sou cego, contudo. Porém, do alto dos meus cinquenta anos (sinto-me ridículo com essa frase), posso assegurar que cada um luta pela própria sobrevivência. A vida é um amontoado de relações políticas: na escola, no trabalho, na rua, na família. Já vi dois impeachments e estou aqui.

Sobrevivi.

2 comentários sobre “Sobrevivi

  1. Somos sobreviventes, sim! Não tenho 50a, ainda (1970), mas já vi e vivi poucas e boas…
    Parabéns Daniel, pelo niver e por compartilhar…
    Sucesso e venha a vida!!!!

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